Boletim Anarco-Sindicalista -GreveGeral.pdf - Google Drive

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Ex-Governador do Banco de Portugal,. actual vice-presidente do Banco Central. Europeu. Já em 2009,quando auferia. uma r
Porque não há uma greve geral? Todos sabemos que a greve geral marcada para o dia 24 de Novembro não resultará numa paragem total da economia capitalista, ou seja, numa verdadeira greve geral. Mas também sabemos que isso não se deve à discordância da maioria dos trabalhadores com a necessidade de protestar ante as injustiças e a exploração de que são alvos ou com a greve como forma de luta.

Boletim Anarco-Sindicalista – Edição especial dedicada à Greve Geral de 24 de Novembro de 2010 Editada pela Associação Internacional d@s Trabalhador@s – Secção Portuguesa

Que trabalhador, a quem ainda reste um pouco de dignidade, não acredita que é necessário protestar contra a situação de precariedade e miséria a que se encontra submetida a maioria dos trabalhadores neste país, causando algum dano àqueles que são os seus principais responsáveis e beneficiários – a classe política e patronal? Que trabalhador, a quem ainda reste um pouco de dignidade, não sente uma raiva a crescer-lhe nos dentes quando ouve os mesmos facínoras de sempre, com a barriga cheia de luxos e privilégios, a pedirem-lhe nova dose de sacrifícios? Mas então, porque não há uma greve geral? A resposta está no medo e no isolamento que nos foram impostos, uma barreira invisível que nos impede de fazer frente aos nossos verdadeiros inimigos. O medo de sermos despedidos, o medo de perdermos os poucos euros que nos dão ao fim do mês impede-nos de resistir, quando não nos leva mesmo a ver um inimigo, não naquele que nos explora, mas no colega que é explorado como nós. Sem termos nenhuma defesa face ao patrão, somos obrigados a satisfazer todas as suas vontades, a aceitar todos os sacrifícios e humilhações. Protestar afigura-se como um acto romântico de jovens irresponsáveis e a greve parece uma relíquia daqueles tempos longínquos em que os trabalhadores pensavam que podiam fazer revoluções. O isolamento só reforça ainda mais o medo e impede-nos de procurar a nossa força na união com os nossos iguais, os demais explorados e humilhados. O isolamento só se pode vencer se soubermos substituir a moral burguesa do cada um por si por uma ética do apoio-mútuo, praticando a solidariedade entre trabalhadores. E só rompendo o isolamento de que somos vítimas poderemos vencer o medo. Quem temerá ser despedido se souber que uma multidão o vingará e que nenhum outro trabalhador ousará ocupar o seu lugar? Isto só será possível se soubermos recuperar a ideia-base que inspirou a formação dos primeiros sindicatos: “a emancipação dos trabalhadores só pode ser obra dos próprios trabalhadores”. Saibamos então unir-nos, sem líderes nem representantes, discutindo os nossos problemas em assembleias de iguais, recorrendo sempre à acção directa, isto é, à acção sem intermediários (políticos ou burocratas sindicais), para agir pela resolução desses mesmos problemas, tendo sempre presente que os interesses dos que exploram e dos que são explorados jamais serão conciliáveis e que a nossa emancipação só será possível com a destruição do capitalismo e do Estado. Saibamos vencer o medo e o isolamento de que os nossos patrões se alimentam e poderemos ousar protestar. E partindo de uma greve que os poderosos querem ordeira e inofensiva poderemos chegar a pôr em causa um sistema que nos transforma em escravos.

Contra a exploração capitalista! Pela igualdade social! Unidos e auto-organizados nós damos-lhes a crise!

PELA GREVE GERAL,

MAS OFENSIVA! A chamada crise do capitalismo, a tal “crise” que continua a encher os bolsos de banqueiros, magnatas da finança e capitalistas em geral, atinge sobretudo a grande maioria da população. O governo de serviço e o patronato continuam a debitar mais e mais medidas de ataque às nossas condições de vida: congelamento de salários e pensões, aumento de impostos, cortes nos subsídios sociais, aumentos dos preços dos medicamentos, despedimentos, etc, às quais se junta o aumento exponencial do trabalho precário e dos salários irrisórios. E sem que se vejam respostas à altura destes ataques continuados, que diariamente atiram mais pessoas para situações de verdadeira miséria social. E porquê? Muito simplesmente porque nos deixamos enredar nas manobras político-partidárias dos partidos políticos da esquerda parlamentar, apoiados nos sindicatos oficiais, acreditando que “eles” vão tomar boa conta da resolução dos nossos problemas. Porque pensamos, erradamente, que bastará pressionar o governo e o patronato, através de manifestações e greves pontuais, de carácter defensivo, para pôr um travão à degradação da nossa situação. Porque acreditamos piamente que o capitalismo, cuja motivação é o lucro e cuja base de funcionamento é o roubo do produto do nosso trabalho, poderá alguma vez ser melhorado, ou reformado.

Acção Directa A acção directa é não confiarmos no parlamentarismo nem nos homens que o defendem; é não esperar do Estado senão reformas ilusórias e deprimentes para os que produzem e sofrem; é não entregarmos as resoluções das nossas questões com o patronato a políticos que sempre nos ludibriam; é lutarmos aberta e directamente com aqueles que directamente nos escravizam; é confiarmos na força saída do nosso esforço; é lutar no campo económico-social cada vez com mais energia, de modo a que abreviemos a queda do patronato e do salariato que nos tem presos ao carro da escravidão capitalista; é, em suma, o meio de apressarmos, sem receio de cairmos em ciladas burguesas, o aniquilamento de toda a opressão e escravidão; e é, sobretudo, o revigoramento da energia perdida, que, colocando o trabalhador na plena posse das suas faculdades físicas, intelectuais e morais, o eleva e o integra no sentimento da sua personalidade. Manuel Joaquim de Sousa, anarquista, 1911

Alguns meios de luta do anarcoanarco-sindicalismo Boicote 1) Boicotar o trabalho na empresa, fazendo com que a qualidade não seja a desejada, provocando assim o decréscimo do prestígio da empresa em questão. 2) Boicotar o produto já elaborado ou o serviço prestado, ou ainda uma determinada marca, fazendo propaganda que afecte o seu prestígio, por meios públicos (campanhas e piquetes informativos) ou outros, desaconselhando a sua aquisição ou consumo.

Sabotagem Provocar o dano, a inutilização ou a paragem temporária dos meios de produção (por exemplo encravando uma linha de montagem ou de produção), fazendo com que a empresa em questão seja atingida nos seus lucros, sem lhe dar a possibilidade de tentar reprimir a luta dos seus trabalhadores.

Greve com ocupação A greve com ocupação consiste em os trabalhadores negarem-se por completo a trabalhar, sem abandonarem o seu local de trabalho, até que as suas exigências sejam satisfeitas. Este tipo de greve terá maior sucesso se tiver a SOLIDARIEDADE activa dos trabalhadores de outras empresas. Como continuação desta forma de luta está a apropriação dos meios de produção pelos trabalhadores, fazendo com que a produção continue por sua conta, ou seja, sem chefes nem patrões. Os lucros obtidos nesta situação de AUTOGESTÃO deverão ser repartidos por todos os trabalhadores, sem distinção de posto de trabalho, idade ou capacidades. Para as tarefas que antes desempenhavam chefes e patrões, serão designados trabalhadores da empresa, mas num sistema de rotatividade e sem que do seu desempenho resulte qualquer espécie de prerrogativa ou privilégio, demonstrando-se assim que não são necessários nem chefes, nem patrões, nem quem enriqueça à custa do trabalho dos outros.

O que se quer daqui? O que se pretende com esta greve geral? O que seria legítimo esperar, nomeadamente mostrar ao Governo que, para além da histeria das Bolsas e da pressão de Bruxelas, ele também terá que levar em conta a reacção da rua e temê-la se necessário for? Se assim for, a greve já pode ser considerada um fracasso, dada a indiferença com que está a ser acolhida, mas as centrais sindicais que a convocaram, com o seu longo passado de capitulacionismo, não pensariam em arrancar as massas à sua letargia e mobilizá-las, mesmo que ainda estivessem em condições de o fazer. Falar de sindicalismo em Portugal significa falar sobretudo de funcionalismo público porque, para a classe trabalhadora propriamente dita, o próprio risco de fazer greve já é demasiadamente grande. É em nome deste funcionalismo que se declaram as greves e as grandes «jornadas de protesto», que desaguam invariavelmente em coisa nenhuma, sucedendo-se as derrotas às derrotas, mas poderia ser de outra forma? Se depender destas cúpulas sindicais, sem dúvida que não. O medo de que qualquer mobilização popular, uma vez iniciada, fuja rapidamente ao seu controlo e se atreva a formular exigências que se situem além daquilo que o aparelho político-sindical da esquerda se pode atrever a propor sem arriscar a pele é demasiado forte. Entenda-se: não existe alternativa. Ou se aceita em bloco o capitalismo e a austeridade de que ele precisa, exigindo quando muito uma repartição mais justa dos «sacrifícios», ou se começa a pôr o sistema enquanto um todo em causa... Chorar sobre o leite derramado porque «estão-nos a roubar o que Abril nos deu» não serve de muito e, vinda a lamúria justamente da boca de quem escancarou as portas ao ladrão e tornou esta situação possível, já não há quem se deixe comover. Portanto, para todos os efeitos, a decisão está tomada: a burguesia e o seu comité executivo podem passar tantos PECs quantos quiserem porque não há alternativa a isso dentro do sistema, mas entenda-se: o aparelho não pode pura e simplesmente admitir que não serve para nada e vê-se na obrigação de fazer algo. Assim sendo, declara a greve, sabendo de antemão que não vai conseguir nada com isso excepto uma coisa, que é o que realmente se quer daqui: mostrar serviço e nada mais.

É preciso ter lata!

Numa altura em que há falta de emprego, as pessoas ainda têm uma série de exigências estranhas. Belmiro de Azevedo, 2009 Patrão da Sonae, 2º homem mais rico de Portugal, com uma fortuna avaliada em 1,1 mil milhões de euros.

É preciso pensar duas vezes antes de aumentar o salário mínimo. Francisco van Zeller, 2009 Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa entre 2002 e 2010

Não me imagino a viver com 450 euros mensais. É terrível. Mas com 500 também não, com 550 também não, com 600 também não. Francisco van Zeller, 2009

Não existe razão para ir além do congelamento dos salários este ano. Vítor Constâncio, 2010 Ex-Governador do Banco de Portugal, actual vice-presidente do Banco Central Europeu. Já em 2009,quando auferia uma remuneração de 250 mil euros anuais (mais as mordomias), havia afirmado que o elevado desemprego em Portugal se devia à ”generosidade” do subsídio de desemprego.

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