loucura em que ela se metera, ali, ao lado de um louco, ambos perdidos no meio
da .... Ditas por um outro homem, vestido com bata branca, ditas segundo.
DANIELA, A LOUCA P. Barbosa
***** PUBLISHED BY: P.Barbosa on Smashwords Copyright 2013 P. Barbosa
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OUTRAS OBRAS DISPONÍVEIS:
«Segredos perfeitos» Ficção (600 páginas) “Se calhar morremos todos pelo caminho da vida, devagarinho e sem darmos conta. Somos simultaneamente o assassino e a vítima do ato diário que nos transforma. E no meio de tão grande promiscuidade, remetemos a pobre vítima para as memórias do passado e abraçamos o assassino que assume o presente. *** Por vezes chego ao fim de um parágrafo e tenho nojo de mim mesmo; das ideias e das palavras que acabo de escrever, como se o ato implícito de negação, no nojo que faço de mim mesmo, fosse uma náusea que não sabe se deve negar as palavras que acabaram de ser escritas ou apenas a existência que se atreveu escrevê-las; mas será certamente das palavras, pois não pensei nelas; passaram diretamente de algum ponto obscuro do universo para a ponta dos meus dedos. Tenho de as reler para as entender, e quando o faço fico com medo de desaparecer; de pensar que sou nada ou pior que isso. Mas se não sou culpado por elas, pelas palavras que escrevo, e se estas surgiram por simples oportunidade material, então alguma razão hão de ter.”
«NÃO LEVO SAUDADE» Romance (270 páginas) «Com o meu pai aprendi que cada palavra é preciosa. Dizia-me frequentemente, com um sorriso desafiador, Cada palavra é preciosa! A verdade tem uma direcção mas não um destino (não te esqueças). Tudo o que eu digo é mentira, vê se descobres... Nunca descobri a verdade escondida naquelas palavras preciosas.»
Contos:
«Bicho da Pedra» «O Quarto Branco »
LOUCOS SÃO OS OUTROS.
«Os loucos são o canário da mina!». Ela nunca mais esqueceu aquela frase nem a maneira como foi dita pelo homem sentado ao seu lado; olhando o infinito de indicador em riste, procurando naquela afirmação uma explicação para a sua própria alucinação. Mas Daniela não era capaz de entender as palavras pronunciadas. Talvez aquela loucura em que ela se metera, ali, ao lado de um louco, ambos perdidos no meio da selva, fosse também um canário numa mina, um canário capaz de detectar por antecipação as fronteiras da loucura humana. Talvez o pobre homem julgasse ser um explorador num túnel que penetrava fundo os limites da moral. Talvez apenas fosse alucinado na emoção, mas lúcido na razão. Afinal de contas, produzia milagres iluminados; dava força a quem fraquejava das pernas, visão a quem procurava ver, alegria incontida a quem se amargurava, amor a quem desesperava por amor, ou liberdade a quem lhe faltava o ar. Mas também matava quem lhe apetecia. «Não há limites para a loucura ou não seria!», justificava-se ele. Durante os primeiros dias, Daniela não soube o que pensar, dividida que estava entre os actos que ele executava e os resultados que produzia. «Danado do homem que construiu o botão vermelho que foi carregado. Que os demónios de Safitá consumam as suas entranhas num festim endiabrado. Que a sua descendência tenha cauda pontiaguda e cuspa fogo pela boca. E tu, velha, morrerás se não viveres. Cuspo na tua cara se te congelares. Imobilizada serás, e os vermes virão e te comerão. E verás tudo acontecer. E sentirás na pele a comichão eterna que te irá enlouquecer». Era com gritarias impossíveis de compreender que o homem produzia os milagres que não tinham explicação. E não eram ficção, não eram encenação. A combinação mágica de palavras que só ele conhecia entrava pelas orelhas dos enfermos e produzia os milagres desejados. Ninguém procurava explicar ou compreender o seu funcionamento, ou simplesmente desenhar ou descrever num documento que pudesse ser passado à descendência dos homens. Tal seria um acto de negação. Seria a vulgarização do milagre que assim poderia ser copiado até à exaustão. Daria cabo dele e da loucura que o produzira. Mas era assim (explicou ele mais tarde) que a Humanidade avançava; por aniquilação da loucura dos milagres que, após descobertos, passavam a ser dados como adquiridos, esvaziando-se-lhes instantaneamente a magia que os preenchia. E as explicações que ele dava eram a razão da sua teoria; ele era um explorador, um investigador avançado entrincheirado em território desconhecido. Ele era a linha de fronteira que fazia a Humanidade se movimentar, que a alertaria quando o perigo fosse
detectado, ou simplesmente apontando a direcção. Chamavam-lhe louco, mas ele não se importava. Sorria sem nada dizer, na certeza de que não podia ser compreendido, e de que quem o chamava de louco era um alucinado que vivia rodeado de milagres passados que se haviam tornado vulgares. Mas agora algo estava mal e que, pela primeira vez na sua vida, verdadeiramente o assustava. Nunca falhara. Sempre conseguira produzir o resultado pretendido. Vinham ter com ele de todos os lados, embrenhando-se na floresta e correndo risco a serem devorados por crocodilos e leopardos. Ele mudava constantemente o local da sua tenda maltrapilha, o que dificultava ainda mais a tarefa a quem o procurava. Era tal o esforço e dedicação necessários para o encontrar que, julgo eu, quaisquer palavras serviriam para produzir o milagre desejado. Mas nem isso era garantido. Ele nunca tinha falhado, mas isso não queria dizer que sempre dava o resultado esperado pelo doente que o suplicava. «O milagre só é possível se o homem ou mulher que tiver na minha frente for mais louco do que eu», explicou ele. «E se ele não for mais louco do que tu, que lhe fazes?», perguntou Daniela. «As palavras mágicas servem para isso mesmo, para o alucinarem para lá da razão, para lhe misturarem as entranhas de tal forma que serão capazes de levantar o corpo do chão, mesmo que esteja paralisado do pescoço para baixo». Daniela quis-lhe perguntar o que aconteceria se as palavras mágicas não funcionassem, mas ele antecipou-se. «Ainda antes da última palavra ser pronunciada eu sei já qual direcção tomar; se o milagre vai ser produzido ou se vou ter de o matar», o que não era uma ameaça vã. Contavam-se histórias de que muitos dos que se embrenhavam na floresta procurando a promessa de cura não voltavam mais. Mas essas histórias não faziam frente às histórias dos vivos que regressavam da floresta curados pela vontade de as contar. Daniela pensou que, talvez, tudo aquilo não fosse mais do que um inteligente estratagema ou uma tortuosa alucinação, o resultado lúcido ou acaso circunstancial de um modo de vida que o Homem sempre tem de ter e que nunca pode recusar. Mas depois, sempre havia o seu caso fora do normal. Apesar do homem a seu lado ser detentor de fórmula infalível para o sucesso, curando ou matando em função da conveniência profissional, a verdade é que este se havia colocado por decisão própria num incómodo caminho que o ameaçava derrotar. «Pela primeira vez, falhei», disse ele, desalentado, sem saber ao certo quais as consequências das palavras que acabara de proferir. E quem olhasse para ele perceberia que aquelas palavras não eram vulgares; eram mágicas no seu próprio domínio.
«Por que dizes tu que falhaste?», perguntou Daniela, assustada. «Quer dizer que não estou curada?» «Não te consigo curar», disse ele. «Vais-me matar, então?», perguntou ela, despreocupada. «Não te vou matar», respondeu ele, desalentado. «Pensei que só havia essas duas alternativas, a cura ou a morte», disse ela. E havia, até àquele momento. Mas ele não era capaz de se enganar a si próprio, o que em si era trágico. Depois de ter segurado Daniela pelos braços e lhe ter gritado as palavras mágicas que a iriam curar, percebeu que lá dentro nada mudara, e que o mal que se havia instalado vivia indiferente a qualquer combinação de palavras que pudesse arranjar. Mas ao mesmo tempo que encontrava agora razão suficiente para pegar na faca ferrugenta que guardava no fundo do bolso do casaco e enfiá-la garganta adentro da infeliz, algo o imobilizou e o derrotou. «Por que não me mataste, então?», insistiu ela. «Porque vejo nos teus olhos que já és mais louca do que eu. As palavras entraram e produziram o efeito da loucura desejado, mas o mal que tens dentro de ti é mais forte que as minhas palavras, que a loucura que te foi passada», disse, desesperado. «E não sendo culpa tua, não te poderei matar», concluiu. Na verdade, Daniela já experimentara o poder mágico das palavras ainda antes de ter encontrado o homem que se encontrava agora a seu lado de dedo em riste e acusador para o céu. Ouviu palavras mágicas que se detonaram dentro de si ainda antes de saber que aquele homem existia. Ditas por um outro homem, vestido com bata branca, ditas segundo um receituário que se tornou banal, essas palavras passam por vulgares, misturadas com as outras que lhe dão arranjo e entoação, nome e indicação; «Você tem uma doença terminal», disse-lhe o homem imaculado da bata branca. Recordando aquele momento, Daniela não podia deixar de dar razão ao maltrapilho a seu lado. Há palavras que são capazes de abanar fundações, de derrotar homem ou mulher, de revirar o mundo do avesso, mágicas. «Os loucos são o canário da mina!», gritou ele em sofrimento. Largou Daniela e foi sentar-se num tronco que vivia no chão. A lua brilhava no seu quarto crescente, e Daniela, sem saber muito bem o que fazer, por ali ficou, junto daquele homem angustiado e convencido de que tinha alcançado um limite qualquer, o fim do seu mundo quadrado de onde inevitavelmente irá tombar e sucumbir. Naquela primeira noite, enquanto Daniela adormeceu profundamente, o homem permaneceu para sempre acordado, remoendo o destino que lhe fugia das mãos. Conjurou uma desculpa, inventou um engano, e quando a manhã se levantou convenceu-se de que
tudo aquilo não passara de um pesadelo ou de um infeliz acaso. Imaginou que estava cansado, e que no dia anterior não tinha conseguido juntar força suficiente nas palavras mágicas pronunciadas. Ele procurou explicar a sua teoria a Daniela enquanto devorava uma mistela ao pequeno-almoço. Mas ela já tinha desistido. Na verdade, aquele impulso de última hora em busca de um salvador que vivia no meio da floresta era apenas o desespero disfarçado de esperança, e agora que a farsa havia caído sentia-se enganada por ela própria. Deixou de temer a morte que a procurava. «De certa forma, tu curaste-me», disse-lhe Daniela. Mas ele apressava-se já com o seu próprio acto de aniquilação; quando acabou o pequeno-almoço ficou a batucar no prato com a colher, sem saber ao certo o que pensar, controlado por um nervoso miudinho que se esgotou num medo absorto, que o transportou para um mar morto, navegando agora imóvel em mar incógnito. Levantou-se brusco e gritou para uma árvore, «É para isto mesmo que servem os exploradores!». Não parou quieto o resto do dia, na ansiedade da espera por um novo enfermo que viesse à procura das suas palavras milagrosas. Quando um chegou, tímido e perdido, como se tivesse vindo ali parar por acaso, agarrou nele sem demoras e gritou-lhe furibundo, «Comerás a terra que Deus amaçou. Enfio-te a mão na barriga e devoro-te o estômago, ò verme sem destino que come a carne que outro criou. Vil destino que te foi destinado, destino enfiado e não amado». Como receava que o poder das palavras pronunciadas não fosse suficiente, agarrou-lhe o pescoço com as duas mãos. Usou tanta força que o pobre homem estrebuchava. «Corto-te o ar que não a garganta, porco ardente e não dormente, guincharás até curares e daqui não sairás até que o mal desista de ser». Por fim, o homem conseguiu libertar-se ou foi ele que o largou, mas o certo é que o pobre coitado fugiu dali a sete pés. Convenceu-se de que a cura fora executada. Nessa noite fingiu que dormiu. No dia seguinte, ainda não tinha chegado a hora do almoço, apareceu um velho que queria morrer. Era a primeira vez que alguém lhe fazia tal pedido, mas não o rejeitou. A princípio ainda achou que o desafio seria mais interessante se o conseguisse matar apenas com uso das palavras mágicas, «A terra quente anseia pelo teu sangue dormente. Larga o corpo podre e faz-te gente». Cuspiu-lhe na cara e no corpo, mas o velho nem se mexeu. De seguida, pegou na faca ferrugenta e cortou-lhe a carne nos sítios onde tinha cuspido, mas o velho nem se mexeu. «Irás arder no gelo primaveril se continuares a olhar o mundo como se estivesses vivo. Olhas e não vez que já cá não estás. VAI-TE!», gritou-lhe com toda a força das palavras que as palavras podem ter, num vendaval sonoro e espiritual que seria capaz de derreter um universo inteiro. Mas o velho nem se mexeu. Ele continuou a olhar para o velho, que continuava sereno, surdo e imóvel às palavras que lhe gritava. E com o tempo
da imobilidade a passar, o louco das palavras começou a tremer. O velho, sem se mexer, sugava-lhe a vida através de uma certeza fundamental. Inquietado, fez o que lhe foi pedido: pegou na sua faca e de um só golpe cortou o pescoço ao velho, que logo caiu ao chão siderado pela sua ideia inicial. Mas o que ficou vivo para sempre foi derrotado, com a esperança degolada pelo sangue do velho que caía na terra amaçada por Deus. No terceiro e quarto dia foi uma matança desenfreada. Parecendo querer assegurar a sua derrota total, vindos do nada, surgiram por dia mais pessoas que a média aritmética a que estava habituado. Matou-os a todos, sem perguntar razão ou pedir licença. Era a loucura final, a esperança vã de que com aqueles actos tresloucados pudesse descobrir um novo continente por explorar, para viver e se entreter, fugir da vida banal que sempre quis deixar para trás. Se conseguisse, levaria anos até que o mundo normal o encontrasse e novamente ocupasse essas terras virgens que procurava com cada facada que dava ou esguicho de sangue que produzia. Daniela vivia indiferente ao espectáculo. Visionava apenas a sua própria morte, que se aproximava. Na manhã do quinto dia levantou-se e foi embora. Voltou à cidade onde vivia. Passaram-se meses. Daniela aproveitava agora os dias que lhe restavam com longas caminhadas para ver o nascer e pôr-do-sol. Um dia, caminhando junto à praia, encontrou um grupo de mendigos que dormia no chão. Ao longe, fediam. Ao perto, as suas vestes descoloridas pela podridão dos dias ofenderiam até um cão. Olhou para eles com um misto de pena e desprezo. «Por que estão no chão, quando podem levantar-se?», disse para ela própria num misto de pergunta e afirmação. «Que palavras mágicas precisarão eles para os fazer mover?», disse, baixinho, e disse-o sem querer, porque a lembrança das palavras mágicas já havia sido esquecida. Olhou-os com cuidado, e se no início pareciam ser todos iguais, olhando com maior atenção reconheceu num deles o louco que produzia curas milagrosas por simples pronunciação. Olhou-o novamente. Tinha perdido qualquer réstia de loucura, de vida, diluindo-se agora no meio da normalidade que sempre abominara. Tinha sido derrotado sem ter morrido, e esse era um destino pior do que aquele a que Daniela estava cometida. Aproximou-se dele, que deitado no chão continuava a fingir que dormia, mas agora já nem os olhos conseguia enganar. Permaneciam incansavelmente abertos, lembrando-lhe assim que agora ele vivia ali, no meio dos outros. «Ainda estás viva», disse ele sem se mover quando a reconheceu. Disse aquilo como se ambos compartilhassem uma tragédia comum. «Que fazes aqui, no meio da cidade?», perguntou Daniela.
«Nada» «E o que vais fazer amanhã e depois?», perguntou novamente. «Nada» «E as palavras mágicas? E os milagres?», insistiu Daniela. Ele imobilizou-se com a pergunta. Tinha sido consumido por elas na última vez que as pronunciou, e fora transportado por magia para aquele lugar onde agora se encontrava. «Leva-me contigo», disse ele no fim de um silêncio. Daniela ficou sem perceber, num primeiro instante, o que verdadeiramente aquilo significava, mas o sofrimento nos seus olhos não deixava enganar; ele queria morrer com ela. «O que eu tenho não tem cura, com remédios ou palavras. Mas tu podes ser curado», disse Daniela enquanto se abaixava para junto dele. Ele continuava imóvel, deitado no chão. «Tens palavras mágicas que possas pronunciar, para me curar?», perguntou ele. «Eu sou mais louca do que tu, lembras-te?», disse-lhe, olhando-o nos olhos. «A loucura que me passaste pode não ter derrotado a minha doença, mas por cá ficou. Não me mataste, não me curaste, mas agora posso devolver-te a loucura que me deixaste». Ele levantou a cabeça, surpreso com o poder daquelas palavras que lhe pareciam dar a força da levitação. «Todo este tempo aqui deitado deu-me tempo para pensar. Já não estou certo das certezas que tinha antigamente, se as curas que produzia eram boas e compensavam todo o sofrimento. Não sei se quero voltar à loucura que já tive», disse. «Se houve alguma coisa que aprendi contigo, foi que é preciso ser-se louco para verdadeiramente viver. Só a loucura te pode trazer a liberdade que a realidade da vida se esforça por esconder. Se recusares a loucura, para sempre aí vais ficar, deitado no chão de olhos abertos a sofrer, sem viver» «Mesmo que para isso outros tenham de sofrer? Por minha causa?» «O sofrimento sempre existe. Só tens de escolher. E o mundo também é louco na sua natureza fundamental» «O Mundo…?» «O Mundo, o Universo, é o maior louco que podemos imaginar. Mas como é único, olhamo-lo e achamo-lo normal. Olha para mim…estou a morrer, sem nada para o merecer» «És louca» «Sim, finalmente sou, mas já sem tempo para ser»
FIM
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«Segredos perfeitos» Ficção (600 páginas) “Se calhar morremos todos pelo caminho da vida, devagarinho e sem darmos conta. Somos simultaneamente o assassino e a vítima do ato diário que nos transforma. E no meio de tão grande promiscuidade, remetemos a pobre vítima para as memórias do passado e abraçamos o assassino que assume o presente. *** Por vezes chego ao fim de um parágrafo e tenho nojo de mim mesmo; das ideias e das palavras que acabo de escrever, como se o ato implícito de negação, no nojo que faço de mim mesmo, fosse uma náusea que não sabe se deve negar as palavras que acabaram de ser escritas ou apenas a existência que se atreveu escrevê-las; mas será certamente das palavras, pois não pensei nelas; passaram diretamente de algum ponto obscuro do universo para a ponta dos meus dedos. Tenho de as reler para as entender, e quando o faço fico com medo de desaparecer; de pensar que sou nada ou pior que isso. Mas se não
sou culpado por elas, pelas palavras que escrevo, e se estas surgiram por simples oportunidade material, então alguma razão hão de ter.”
«NÃO LEVO SAUDADE» Romance (270 páginas) «Com o meu pai aprendi que cada palavra é preciosa. Dizia-me frequentemente, com um sorriso desafiador, Cada palavra é preciosa! A verdade tem uma direcção mas não um destino (não te esqueças). Tudo o que eu digo é mentira, vê se descobres... Nunca descobri a verdade escondida naquelas palavras preciosas.»
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