Objetividade e verdade - O problema da verdade - Centro de ...

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Conceito: Objetividade e verdade - O problema da verdade. Porque ensinar. Verdade é um conceito nuclear na Filosofia de um modo geral, em particular do  ...
CAMPO DE CONHECER INVESTIGAÇÃO III: Tema: A racionalidade científica Conceito: Objetividade e verdade - O problema da verdade

Porque ensinar Verdade é um conceito nuclear na Filosofia de um modo geral, em particular do campo da Teoria do Conhecimento/ Epistemologia, e diz respeito à possibilidade de um conhecimento fundamentado e seguro, que possa ser distinguido da mera opinião e da falsidade. Se nossas tentativas de conhecimento do mundo – mundo natural, mundo humano fossem necessariamente bem sucedidas ou, pelo contrário, necessariamente mal sucedidas, não se colocaria o problema da verdade, seja por excesso – todas as afirmações seriam verdadeiras -, seja por escassez – nenhuma afirmação seria verdadeira. Dado o fato de que, pelo contrário, ora somos bem sucedidos, ora somos mal sucedidos na obtenção de conhecimento, é inevitável que nos perguntemos pelas condições, mesmo limitadas, que, favorecendo a percepção do erro, possibilitam o acerto. Assim, o debate em torno do conceito de verdade, em que pese a sua complexidade, é parte imprescindível de qualquer tentativa de compreender a atividade de conhecimento. Este tipo de investigação, essencial em vista do lugar ocupado pelo conhecimento em nossas vidas, ganha cada vez mais proeminência, já que a extrema importância conferida ao conhecimento é um traço caracterizador das sociedades contemporâneas. Verdade, a qualidade daquelas proposições que estão de acordo com a realidade, especificando aquilo de que realmente se trata. Enquanto o objetivo de uma ciência é o de descobrir mais das proposições que dentro do seu domínio são verdadeiras, isto é, quais proposições possuem a propriedade de verdade, a principal preocupação filosófica com a verdade é a de descobrir a natureza desta propriedade. Assim, a pergunta filosófica não é: o que é verdadeiro? mas, antes: O que é a verdade? O que está alguém dizendo a respeito de uma proposição ao dizer que ela é verdadeira? A importância desta questão tem sua origem na variedade e profundidade dos princípios nos quais o conceito de verdade está distribuído. Somos tentados a dizer, por exemplo, que verdade é o objetivo adequado e o resultado natural da investigação científica, que as crenças verdadeiras são úteis, que o sentido de uma sentença é dado pelas condições que a tornam verdadeira, e que o raciocínio válido preserva a verdade. AUDI, R. (org.) Dicionário de Filosofia de Cambridge. São Paulo: Paulus, 2006, p. 978. Condições prévias para ensinar É fundamental que se tome como referência a experiência dos estudantes, por exemplo, eventuais divergências de posições sobre um tema qualquer (aborto, desigualdade social, globalização) e que se verifique, em cada caso, a fundamentação das afirmações defendidas e sua eventual veracidade. Um exercício desta natureza permitirá a percepção de que, embora as opiniões sejam distintas, elas não são, necessariamente equivalentes e que sua fundamentação costuma ser bem desigual. Vale lembrar que conceitos como verdade, de largo uso na vida cotidiana, são parte do repertório dos alunos, o que viabiliza a que sejam feitos exercícios amplamente compartilhados. Por outro lado, o fato de que existem muitas formas de conhecimento (senso-comum, religião, ciência, filosofia,mito) permite também que sejam examinadas, considerando esta diversidade, as modulações da idéia de verdade. Outra fonte da qual se pode partir é o material proveniente das demais ciências estudadas, que envolve com freqüência seja a menção à afirmações tidas como verdadeiras, seja, mais eventualmente, à relativização da verdade. Com relação ao professor, é importante que ele esteja medianamente familiarizado com os principais conceitos e doutrinas do campo da teoria do conhecimento/epistemologia, com as teorias favoráveis à verdade e com as críticas dirigidas a esta noção. Dicionários, manuais e Histórias da Filosofia propiciam esta formação. O que ensinar Tendo como referência as questões relativas ao conhecimento, podem ser estudadas as diversas correntes que se propuseram a indicar as condições da verdade. Dado serem duas as fontes do conhecimento, a saber, os sentidos e a razão, valerá a pena examinar, nos pensadores mais representativos e nas doutrinas por eles defendidas, o papel de cada uma destas fontes e as possíveis combinações entre elas na obtenção de conhecimento verdadeiro. Assim, poderão ser vistas posições clássicas como o empirismo, o racionalismo e o criticismo e os principais argumentos a elas associadas, bem como posições mais contemporâneas como o instrumentalismo, o pragmatismo e o realismo. Por outro lado, negativas mais clássicas com relação à possibilidade do conhecimento, como, por exemplo, o ceticismo, também devem ser objeto de reflexão. Tendo como referência o conhecimento científico - ciências naturais, ciências humanas e ciências formais -, tópicos mais específicos podem ser estudados, examinando, em cada um destes campos, os critérios de verdade. O que se pretende é que os estudantes possam compreender o valor de uma atitude mais crítica e os males decorrentes do dogmatismo, em qualquer de suas modalidades. Como ensinar A preocupação maior deve ser a boa dosagem entre, de um lado, a experiência a ser trazida pelos alunos e, de outro, os materiais mais estritamente filosóficos, a saber, pensadores, conceitos, temas, textos e doutrinas. Restrita à experiência dos alunos, a disciplina perderia, inevitavelmente, a identidade. Pelo contrário, o tratamento dos textos de forma excessivamente distante do

contexto da sala de aula, levaria, rapidamente, ao desinteresse. O que deve ser preconizado é uma via de mão dupla: dos textos à vivência e da vivência aos textos. Ver sugestões de atividades no RA: Objetividade e verdade II – O problema da verdade Avaliação Tendo em vista as questões tratadas ao longo da disciplina, os exercícios podem lançar mão de textos retirados de jornais, revistas, publicações de qualquer natureza e, eventualmente, em fontes não escritas, cuja argumentação possa ser reconstituída. A título de exemplo, é possível examinar a fundamentação do que é afirmado numa reportagem, numa declaração política ou matéria que verse sobre economia. Em cada um destes casos, podem ser elencadas e examinadas as bases apontadas como garantia da verdade das afirmações feitas. Uma primeira fonte de avaliação poderia vir de exercícios de aplicação e uma segunda fonte, as duas sendo indispensáveis, de exercidos de compreensão de textos ou de doutrinas. Mesmo que a disciplina faça uso de um livro texto, os exercícios de aplicação, voltados para a experiência cotidiana, devem ser mantidos. Bibliografia AUDI, R. (Org.). Dicionário de filosofia de Cambridge. São Paulo: Paulus, 2006. GRECO, J.; SOSA, E. (Orgs.) Compêndio de epistemologia. São Paulo: Loyola, 2008. NORRIS, C. Epistemologia. Porto Alegre: Artmed, 2007. MOSER, P. K.; MULDER, D. H.; TROUT, J. D. A teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Textos ilustrativos 1. Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde os meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundamentei em princípios tão mal assegurados que não podia ser senão muito duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez que em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. Mas, parecendo-me ser muito grande essa empresa, aguardei atingir uma idade que fosse tão madura que não pudesse esperar outra após ela, na qual eu estivesse mais apto para executá-la; o que me fez adiá-la por tão longo tempo que doravante acreditaria cometer uma falta se empregasse ainda em deliberar o tempo que me resta para agir. DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. 2. ...todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas idéias consistentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso; porque somos capazes de conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimentos; e podemos unir a isso a figura e a forma de um cavalo, animal que nos é familiar. Em resumo, todos os materiais do pensamento derivam ou do nosso sentimento exterior ou do interior: a mistura e a composição de ambos dizem respeito à mente ou à vontade. Ou seja, para me expressar em linguagem filosófica, todas as nossas idéias, percepções mais débeis, são cópias de nossas impressões, mais vívidas. HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano.

Orientação Pedagógica: Objetividade e verdade - O problema da verdade Currículo Básico Comum - Filosofia Ensino Médio Autor: Ricardo Fenati Centro de Referência Virtual do Professor - SEE-MG / março 2009