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Q u a l i d a de de vida no tra b a l h o : um estudo de caso das en ferm ei ras do Hospital Hel i ó po l i s. L i fe qu a l i ty at work : a stu dy of case of the nu rses of ...
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Qualidade de vida no trabalho: um estudo de caso das enfermeiras do Hospital Heliópolis Life quality at work: a study of case of the nu rses of Heliópolis Ho s p i t a l

Lo u rdes Margareth Lei te Pizzoli 1

1 Hospital Hel i ó polis, Divisão de Enferm a gem. Rua Cônego Xavi er, 276, sala 8, térreo, 01231-030, São Paulo SP. [email protected]

Abstract The arti cle pre sents a stu dy of case referring the verification of Li fe Quality at Work ( LQW) of the nurse s’ population of Hel i ó polis Hospital, by means of indicators based on dimensions of the Richard Walton’ model. These dimensions propound wide indicators which better adapt to the Brazilian socioeconomic culture, adapting to the co m mu n i ty’s orga n i z a tion stru cture wh ere situ a tes the target popu l a ti o n . The institution is public, characterized by high complexity spe cialties, with pred o m i n a n ce in su rgical activity, co n s i d ered reference hospital, located in São Paulo St a te , B ra z i l . The rese a rch made part of the dissertation approved for obtainment of the Master title in Sciences of the Administration and Human Values at the Capital Ac a d emic Center, in Novem ber 2002. Expl o rato ry re se a rch, of field, qualitative in the fundamental el a b o ra tion of co n cepts for co n fe ction of the questionnaire, and quantitative regarding mensuration procedures of the closed answers, with statistical treatment through descriptive analysis and distri bu tion of the frequencies of the va ri a bl e s . The re sults were positive regarding integration, social releva n ce, use opportunity and to the development of the capacities and negative regarding the absence recognition by wo rk, a b sence project career, d ef i cient co m mu n i c a tion and inco m pa ti ble remu n era ti o n with the function. Key word s Li fe Quality at Work (LQW) , Wa lton’s Model, Nurses, Heliópolis Hospital

Re su m o O artigo apresenta um estudo de caso referen te à Qualidade de Vida no Tra balho (QV T) da população de en ferm ei ras do Hospital Hel i ópol i s , med i a n teindicadores ba seados nas dimensões do modelo de Ri ch a rdWalton. Suas dimensões apre sentam indicadores amplos que mel h o r se adaptam à cultu ra so ci oe conômica bra s i l eira, adequando-se à condição orga n i z a cional da comunidade onde se situa a popu l a ç ã o - a lvo. A instituição é pública, caracterizada por espe ci a l i d ades de alta complexidade, predominância cirúrgica, hospital de referência, em São Pa u l o. A pesquisa fez parte da dissertação aprovada para mestrado em Ci ê n cias da Ad m i n i s tração e Va l o re s Humanos no Centro Un iversitário Capital, em 2002. Pe squisa expl o ratória, de campo, qualitativa na el a b o ração fundamental de co n cei tos pa ra confecção do questionário, e quantitativa nos proced i m entos de mensuração das respostas fech adas, com tratamento estatísti co por meio de análise descritiva e distri buição das freqüências das va riáveis abordadas. Os resultados apresentara m - se po s i tivos quanto à integração, rel ev â n ci a so cial, opo rtunidade de uso e ao desenvolvi m en to das capacidades; e nega tivos quanto à ausência de reconhecimento pelo traba l h o, ausência de plano de carrei ra , co municação deficien te e remuneração incompatível com a função. Pa l avra s - ch ave Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), Modelo de Walton, Enfermeiras; Hospital Heliópolis

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In trodução Esperava-se que o Terceiro Milênio chegasse m a rc ado por um domínio sereno das ciências, com precisão e con trole natural. O que se observou foi a ch egada de um século 21 caracteriz ado por eventos políti co - rel i giosos de s a f i adore s , destrutivos, revelando que a hu m a n i d ade ainda ignora os processos soc i a i s , em oc i onais e o intenso poder da força ideo l ó gi c a . Numa era tecnológica que previa prob a bil i d ade s , mediante planejamentos, con troles, í nd i ces e visualização do futu ro, ref l etiu a imprevi s i bi l i d ade da gl orificação da máquina. Acreditando no poder da racionalidade e do intelecto, a evolução mostrou que esses even to s , mesmo assoc i ados a um progresso financei ro e educativo, não traduziram uma melhora da consciência social. Sabemos mais das máquinas e dos merc ados do que das motivações que nos fizeram inventar e institucionalizar essas coisas. Somos também ignora n tes das emoções que nos levam a ter re s postas exclusivas para todos os problemas soc i a i s , que ga ra n te que esses males têm causas únicas. E que, conseq ü en temen te , qu em sabe disso tem o dever e, mais que isso, o d i rei tode tomar o poder a qu a l qu er preço para i m p l em entar uma nova e inu s i t ada era de felicidade. Hi t l er, Stalin e Bin Laden são desse time. Bem como os velhos deterministas que lhes deram (e têm dado) farta munição ideo l ógica (Damatta, 2002). Explorando e de s envolvendo mais o conc reto extern o, ob s ervamos que o interno humano se ex pressou sobrem a n ei ra na véspera do século 21, num mu n do que se deparou com uma busca ince s s a n te por novos modelos tecnológi cos e administra tivo s , no intu i to de perm i tir a gestão de mel h ores serviços, mediante o estudo para aprimoramento e com preensão das relações hu m a n a s . Na edificação social e no intercâmbio cultura l , vei c u l ados cada vez mais intensamen te nos m eios de comu n i c a ç ã o, verificam-se ex tremos de situ a ç õ e s , do fanatismo rel i gioso à de s m ed ida ambi ç ã o, com even tuais ch oques de crenças e valores, represen t a n doo qu a n to de s conhecemos do com portamento humano na con s trução de ambien tes e relações harmônicas e re spei to s a s , m ed i a n te as diferenças natu ra i s . Essas circunstâncias se refletem de forma i n tensa nos ambien tes sociais, com destaque nas relações de trabalho. Para atualizar os últimos con cei tos de tec n o l ogia e qu a l i d ade, con-

sideramos impre s c i n d í vel associar o com prometi m en to dos funcion á rios dos mais variados n í veis hierárqu i cos de uma em presa. Isso implica verificar o grau de satisfação e de participação e os impactos daí decorren tes e sua repercussão na eficácia or ganizacional. Esses aspectos podem ser com preen d i doscomo uma forma de rever o po s i c i on a m en to das pe s s oas em relação ao trabalho e à comu n i d ade . O estu do de indicadores para men su rar esses el em en tos su r giu com o de s envo lvimen to do tema den om i n ado Q u al id ade de Vida no Trabalho ( QV T) , na busca de novas formas de gerenciar o trabalho e inve s tir no po tencial humano. A verificação de índices de QVT pode trazer informações de fatores que interferem diret a m en te na satisfação e motivação pe s s oal e col etiva , com ref l exos na excelência da estrutu ra e do servi ç o. Um estudo sobre esses elementos perm i te con h ecer como as pessoas se sentem em relação a vários aspectos (tanto internos como ex ternos) da em presa e, a partir daí, gerenciar esses dado s , tra n s form a n do essas inform ações em bases para a con s trução de estra t é gias que prom ovam o aumen to do envo lvi m en to. As em presas necessitam de pessoas motivadas e com prom etidas com seus obj etivos e sua filosofia. Desse modo, o levantamen to das percepções dos funcionários em relação aos fatores interven i en tes da qu a l i d ade de vida no trabalho torna-se fundamen t a l . O trabalho pode ser visto como ação hu m ana desenvo lvida num con tex to soc i a l , que recebe influências de várias fontes, resultando nu m a ação rec í proca en tre o tra b a l h ador e os meios de produ ç ã o, que foi gradativamente limitado por condições soc i a l m en te estabel ec i d a s , ten do o ser humano como produto e produtor da soc i ed ade na qual se insere. No perc u rso evo lutivo das Ciências da Administração ob s erva-se acen tu ação do en foque nas relações humanas como base para a motivação no trabalho. Con s i dera n do a motivação referência a um estado interno re su l t a n te de uma nece s s i d ade, a borda-se sua inferência na ex pressão do comportamen to. A identificação do motivo pode auxiliar na compreensão do comportamen to hu m a n o, mediante interpretações qu a n to às d i ferenças pessoais nas tendências motivacionais básicas, com reflexos na vida pessoal e, con s eqüentemente, na vida de relação do trabalho. Med i a n te a cultura, a ex periência familiar e individual, c ada pe s s oa de s envo lve forças de motivação que influ enciam no seu trabalho, con forme seus va l ore s .

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As instituições hospitalare s , com vistas à melhoria da própria qu a l i d ade de vida da população, também se en con tram nessa busca de m odelos que favoreçam a qu a l i d ade na prestação de assistência. Uma comu n i d ade hospitalar, de modo gera l , pode ser de s c rita como qu a l qu er outra organização em presarial, em termos de gestão ad m i n i s tra tiva, com re su l t ados que podem sofrer influência tanto de fatores internos qu a n to ex ternos à organização (Ma rquis & Hu s ton , 1999). Porém, po s sui características bastante pec u l i a re s , que envolvem atuações profissionais diret a m en te ligadas aos princípios de manutenção e rec u peração da saúde , e, por con s eguinte, dos mananciais que sustentam a própria existência. Desse modo, a equ i pe operacional de saúde , mais prec i s a m en te a prof i s s i onal en ferm eira, geralmen te é submetida às situações geradas pelas ativi d ades ineren tes à função, envo lvendo inúmeros elem en tos nega tivos proporc i on ados pelo ambi en te caracteri z ado pela enferm i d ade . Pela ampla repre s entividade do gênero feminino no exercício da prof i s s ã o, preferimos o termo enferm eira para refer ê ncia no decorrer do e s tu do, não som en te pelo qu a n ti t a tivo (94,78% no Estado de São Paulo, segundo o Con s elho Regi onal de Enferm a gem do Estado de São Paulo – Coren/SP – em feverei ro de 2002 e 96,88% no Hospital Heliópolis em julho de 2002), mas principalmen te pela caracter í s tica prof i s s i on a l , cujos aspectos vo l t ados ao cuidar muito se rel ac i onam ao perfil atri bu í do ao fem i n i n o, a s s oc i ado com princípios da matern i d ade, da amamentação e outras pec u l i a ri d ades do gera r, c u idar e prover. Levando-se em conta que os profissionais passam muitas horas dentro do ambi en te de tra b a l h o, se estas puderem ser agrad á veis, as pe s s oas vão se sen tir mais motivadas e, con s eq ü en tem en te , mais envolvidas com os objetivos da em presa (Gil, 2000). Con s i deramos qu e esse envolvimento é fundamental, para o aumen to não só da produção, mas, principalmente , da qu a l i d ade do trabalho e do apri m oram ento prof i s s i on a l . O pre s en te estu do se ju s tifica por suas contri buições para a discussão te ó rico-em p í rica da noção de Qualidade de Vida no Tra b a l h o, fornecendo subsídios para o crescimento na adm inistração qu a n to ao Serviço de Enferm a gem. S t acciarini (2000) ob s erva que poucas foram as inve s tigações sobre estresse oc u p ac i onal e qu a-

lidade de vida do en fermei ro na litera tu ra nacional, que apenas sugerem que o trabalho da en ferm a gem é estressante, sem maior aprof u nd a m en tonos aspectos que o caracterizam. Os estudos sobre QVT ainda são rel a tivamen te escassos no Brasil, principalmen te na área de en ferm a gem. Ca racterizada em re s t abelecer o bem-estar alhei o, a profissão de enferm a gem comu m en te é subm etida a divers o s f a tores que afetam a sua qu a l i d ade de vida. Tal i n f luência pode ter ori gem em fatores intr í n s ecos à natu reza de sua atividade laborial, mas também nas condições de trabalho geradas pela orga n i z a ç ã o, o que pode influ enciar outro s aspectos indivi duais da vida pessoal do prof i ssional, poden do, port a n to, com prom eter a motiva ç ã o. G i l berto Linhares (2002), presiden te do Con s elho Federal de Enferm a gem (Cofen ) , com enta que essa realidade é ainda mais ch oc a nte nos hospitais, on de prof i s s i onais que proc uram auxiliar na cura “ vivem o paradoxo de estar tão ou mais su j ei tos às en ferm i d ades do qu e o pac i en te entregue aos seus cuidado s”. Ri s co s laboriais como aciden tes bi o l ó gicos (rad i a ç õ e s , inadequações de equipamen tos e instrumentais) e deficiências de infra-estrutura como causa freq ü en te de lesões por esforço repetitivo (LER) e necessidade de duplo emprego para subsistência mais digna, são com p l i c adores dos impactos desses profissionais que acompan h a m o paciente e suas famílias du ra n te as 24 horas do dia, mesmo qu a n do estão enfrentando algum problema pessoal ou familiar. Não é por acaso que esse con ju n to de fatores produz nesse meio, em grande escala, probl emas psico l ógicos e – já se comprovou – envelhecimen to precoce . Por afetar a socied ade intei ra , a grave re a l idade vivida pelos profissionais de saúde está a reclamar um cl a m or de toda a nação pela mel h oria das condições de trabalho e dos salários da operosa e sac ri f i c ada categoria da saúde, em especial a en ferm a gem. De forma gera l , ob s erva-se na estrutura organizac i onal da comunidade hospitalar a implantação do poderio médico com a apropri ação do cre s c i m en to de saúde e o geren c i a m ento do processo de trabalho em saúde . Essa circunstância é decorrente da identificação dos m é d i cos com as classes dom i n a n tes nos diversos mom en tos históri co s , produz i ndo discurso, saber e tecnologia nece s s á rios à manutenção do s t a tus qu o e a ord em social estabel e cida, d i ferentem en te do senso co mu m , que en tende que a su-

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prem a cia médica no setor se deve à su perioridade do saber médico (Pires, 1989). Essa supremacia do conhecimento começou a se fragmentar, acen tu a n do-se com o su rgi m en to e cre s c i m en tovertiginoso das espec i alidades médicas, gerando uma perda da visão total do humano, não somente do enfermo, mas até nas relações da comunidade hospitalar (Wei l , 2000). Mi n ayo (1999) con s i dera que a relação pos i tivista na pr á tica médica se manifesta em três ex pressões básicas: • Na concepção do binômio saúde-doença apenas como fenômeno bi o l ó gi co individual, em que o aspecto social entra, porém, compreen d i do como modo de vida e apenas como va ri á vel , ou é de s con h ec i do e om i ti do ; • Na valorização tecnológica exce s s iva e na c a p ac i d ade absoluta da Medicina de errad i c a r as doen ç a s ; • Na dominação corpora tiva dos médicos em relação aos outros campos do conhecimento, adotando-os de forma pragmática (a sociologia e a antropo l ogia con s i deradas importantes apenas para fazer questionários, produzir informes cultu ra i s , ensinar alguns con cei tos básico s ) ; no tratamen to subalterno dado aos outros profissionais da área (enfermei ro s , assisten tes sociais, nutricionistas, atenden te s ) ; em relação ao senso comum da pop u l a ç ã o, numa tentativa nunca totalmen te vitoriosa, de desqualificá-la e absorvê-lo. Ob s ervando como base hier á rquica a autoridade médica, principalmente dentro da comunidade hospitalar, para os indivíduos que atuam indiretamen te na assistência ou com funções de men or evidência nas con dutas terapêuticas ou diagnósticas, pode-se ter a ilusão de men or grau de importância. Além de el evado índice de estímulos estre s s ore s , n a tu ral num ambien te on de predomina a enfermidade, é f req ü en tem en te com entada a insatisfação pela ausência de reconhecimen to das atividades prof i s s i on a i s . Considerando a importância desses elemen tos na área de saúde , principalmente nu m a profissão de atuação essencial, de s envo lveu-se e s te trabalho com a finalidade de estu do do tema Q u al id ade de Vida no Tra balho (QVT), baseado no Modelo de Rich a rd E. Walton, na comu n i d ade hospitalar de órgão públ i co, atrav é s de um estu do de caso das en ferm ei ras do Ho spital Hel i ó po l i s .

Objetivo s Tal pesquisa intentou obter subsídios que elucid a s s ema situação prof i s s i onal e forn ecer dado s p a ra con tri buir na ree s trutu ração or ga n i z acional para mel h oria da qu a l i d ade de vida no trabalho. L i m i tou-se aos prof i s s i onais de nível superi or, pois de s envo lvem ativi d ades de assistência con com i t a n tes ao geren c i a m en to operac i onal da equipe de enfermagem sob seus cuidados qu e , particularmente na In s ti tuição objeto do e s tu do, necessitam gerenciar amplas equipes de trabalho, além das atividades administra tivas e de interc â m bio multi prof i s s i onal e de mediações com familiares e órgãos insti tucionais. Con s i dera n do as situações ineren tes à função da en ferm ei ra no âmbi to hospitalar, envo lven do os el em en tos que rodeiam os proced im en tos med i a n te as en ferm i d ades e a pr ó pria e s trutura or ga n i z ac i ona l, bu s cou-se iden tificar os fatores que pude s s emcom prom eter a motiva ç ã o, o de s envo lvi m en to e a atuação prof i ss i ona l.

Metodologia Esta pesquisa pretendeu iden tificar os fatore s que possam esti mular a de s m o tiva ç ã o, a tu a n te s nas en ferm ei ras do Hospital Heliópolis, verificando as percepções das mesmas diante dos fatores de QVT. Essa relação entre QVT e produtividade é adaptada do modelo de Richard E. Wa l ton. Desenvo lveu-se como instrumen to de coleta de dados um qu e s ti on á rio para po s s i bilitar a avaliação do nível de satisfação das enferm ei ras, veri f i c a n doos vários fatores que interferem no co tidiano e, a partir da percep ç ã o manifestada, mostrar a importância da avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho (QV T) . E s t a bel ecemos alguns con cei tos sobre motivação para operac i onalizar a men suração, a través de aspectos de satisfação e insati s f a ç ã o, na busca de envo lvimen to e sen ti do para o exec utor. Abordamos também fatores de comu n i c ação que possam interferir nas relações e estimular ou prejudicar as forças produtivas e elementos que podem interferir na qu a l i d ade e motivação den tro da área da saúde no serviço públ i co. A pe s quisa se con s tituiu em estu do exploratório e de campo, de caráter qualitativo na el a boração fundamental de con cei tos para confecção do qu e s ti on á rio, e qu a n ti t a tivo qu a n to aos proced i m en tos de men su ração das re s po stas fech adas. As perguntas abertas intentaram

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obter manifestações espontâneas, suscitadas pelo próprio questionário, para verificação de su rgi m en to de outros fatores não inclu í do s . O tratamento final constituiu-se na construção de tabelas de freqüência e percen tu a i s qu a n to aos fatores perti n en tes a cada dimen s ã o con s i derad a , den tro do modelo de Walton . A partir dos dados leva n t ados, procedeu-se ao tratamen to estatísti co por meio de análise de s c ri tiva e distri buição das freqüências das vari á veis abord ad a s . Com esse tra t a m en to, veri f icaram-se as diferenças significativas de comport a m en to pela estatística de freqüências cruz ad a s , ch ega n do-se aos re su l t ados finais. Dentre os 58 profissionais ativos, obtivemos 54 devoluções de questionários, correspon den do a 93,10% re s pon den te s . O levantamen to de dados para a pre s en te pesquisa foi efetuado por questionário como instru m en to de inve s ti gação, a p l i c ado dura n te o per í odo de julho e ago s to de 2002, após aprovação do proj eto pelo Comitê de Ética em Pe squisa do Complexo Hospitalar Heliópolis e posteri or con cordância de participação pelas pessoas, mediante o preen ch i m ento do termo de Con s en ti m ento Livre e Escl a rec i do. Na hipótese inicial, con s i derou-se que o nível de satisfação das enfermeiras do Hospital Heliópolis poderia ser verificado em qu e s tionário baseado no modelo de QVT de Walton. Tal hipótese foi proposta baseada na abord agem dos aspectos el em en t a res à realização e situação no ambi en te de trabalho, en foc a n do simu l t a n e a m en tefatores higi ê n i cos e motivac i onais, os quais constituem os 21 fatores pertin en tes às oi to dimensões con s i deradas no Modelo de Wa l ton, f ac i l i t a n doa verificação de deficiências percebidas que possam afetar diret amen te a QVT. A pesquisa qualitativa não possui como pre s su po s touma gen eralização de seus re su l t ados e, port a n to, e s tes são válidos som en te para o hospital em estu do, den tro do con tex to espaç o - temporal e limites de qu a l quer outra natureza em que o trabalho foi desenvolvido e os dados co l etados. Esses limites são determinados pela dinâmica que caracteriza a organização como fen ô m eno social que repre s en t a .

Ap re s entação dos re su l t a do s O leva n t a m en todas va ri á veis dem ográficas dem on s trou uma população basicamen te con s tituída pelo gênero fem i n i n o, a pre s en t a n do um

acúmulo de atividades assistenciais e gerenciais, caracterizado por acentuado d ef icit no qu a n ti t a tivo de prof i s s i on a i s , com reperc u s s ã o em praticamen te todos os aspectos avaliados. Veri f i cou-se que cerca de 72% das re s pon dentes referi ram que a escolha da profissão foi vi nculada à viabilidade de auxilio ao próximo nece s s i t ado, c a rente ou en fermo, e ex pressões de realização e espíri tohu m a n i t á ri o.

Síntese dos re su l t a dos obtidos em todas as dimensões e seus respec tivos fatores 1 – Com pensação justa e adequ ada (-): Predominância maciça de insatisfação. a – Renda adequ ada (-): Apresen tou-se como um fator nega tivo, não sen do com p a t í vel com a re s pon s a bi l i d ade e a importância da atividade . b – Eqüidade interna (-): Não há muita diferença en tre tem po de trabalho e ex periência, com re su l t ado negativo. c – Eq ü i d ade ex terna (-): Apre s en tou-se como um fator negativo, em que o salário pago não é o pra ti c ado no merc ado. 2 – Condição de trabalho (-): Predom inância maciça de insatisfação. a – Jornada de trabalho (-): In s a tisfação qu a n to ao estresse pela carga mental e desga s te não som en te rel acionado à própria caracter í stica da prof i s s ã o, mas, principalmen te , pelo núm ero de en ferm ei ras mu i to aquém do nece s s ári o, bem como qu a n ti t a tivo geral de prof i s s i onais de en ferm a gem redu z i do. b – Ambiente físico seguro e saudável (-): Condições físico-ambi entais prejudiciais à saúde, refor ç adas com sobrec a r ga na distri buição de tarefas. Também negativo qu a n to a materiais e equ i p a m en to s , i n ovações tecnológicas e Equ i p a m en tos de Proteção In d ivi dual (EPI). 3 – Oportunidade de uso e de s envo lvimento de capacidades (+): Aspectos equilibrados, com con cen tração em satisfação. a – Autonomia (+): Possuem autonomia para decisão e conhecimento suficiente para de s envo lver suas taref a s . b – Significado da tarefa (+): Percebem como de sua re s pon s a bi l i d ade o re su l t ado alcanç ado. c – Identidade da tarefa (+): Consideram importantes as ativi d ades desenvo lvidas, bem como reconhecem a importância para que o hospital de s envo lva seus obj etivo s .

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d – Va ri ed ade da habi l i d ade (+/-): Utilizam p l en a m en te seus con h ec i m en tos, porém a Insti tuição po u co inve s te em capacitações. e – Retroi n formação (+): Avaliam em parte os re su l t ados finais de suas atividades, conhecendo parc i a l m en te a estrutura completa de f u n c i on a m ento do hospital, e con s i deram pos i tivo o apoio de seus su peri ores imed i a to s . 4 – Oport u n i d ade de crescimen to e segurança ( + / - ): As pectos distribu í dos entre satisfação e i n s a tisfação de forma eq ü i t a tiva. a – Possibilidade de carreira (+/-): Não possu em plano de cargos e carrei ra def i n i do e percebem que a Insti tuição não va l oriza e recon h ece seu trabalho. b – Cre s c i m en toprof i s s i onal (+/-): A Instituição não po s sui sistema de incen tivo à en fermagem para pro s s eguir seus estudos formais, porém oferece condições internas de cre s c imen to pela prática. c – Seg u rança de em prego (+): Po s su em seg u rança e estabi l i d ade no em prego, por tra t a rse de vínculo públ i co, efetuado por con c u rs o. 5 – Integração social no trabalho (+): Aspectos equ i l i brado s , com con cen tração em satisfação. a – Igualdade de oportu n i d ade (+/-): A discriminação funcional foi a que revelou índice s s i gn i f i c a tivos. b – Rel ac i on a m en to (+): Re su l t adopo s i tivo com relacionamen tos con s i derados satisfatóri o s . Também em relação ao senso comunitário e liderança e participação da gerência, com col a boração um po u co com prom etida. 6 – Con s ti t u c i onalismo (+/-): As pectos distribu í dos en tre satisfação e insatisfação de form a eq ü i t a tiva. a – Re s peito às leis e direitos trabalhistas (+/-): Não são efetuados exames médico s . As leis trabalhistas são cumpridas satisfatoriamente. b – Privac i d ade pe s s oal (+): Re su l t ado pos i tivo no re s pei to pessoal. c – Liberd ade de expressão (+): Predominância de satisfação. d – Normas e ro tinas (+/-): Não possuem acesso para deb a te de normas gera i s . As ro ti n a s internas são mais abertas. 7 – Trabalho e espaço total da vida (+/-): Aspectos distri bu í dos en tre satisfação e insatisfação de forma eq ü i t a tiva. a – Pa pel balance ado do trabalho (+/-): Po uca repercussão das ocorrências no lar, com equ i-

l í brio entre trabalho e lazer. Não de s envo lvem a tivi d ade física. 8 – Relevância social da vida no trabalho (+): As pectos equ i l i brados, com concentração em satisfação. a – Imagem da empresa (+): Sa tisfação quanto ao orgulho por trabalhar na Insti tu i ç ã o, por s eu pre s t í gi o, imagem, e pela auto-realização no trabalho. O modelo analíti co ad a ptou-se adequ ad a m ente com êxito na verificação de aspectos el ementares à realização e situação no ambiente de tra b a l h o, enfoc a n do simultaneamen te fatore s h i gi ê n i cos e motivacionais. Verificamos que há equ i l í brio entre as dimensões, poden do situar-se a Qualidade de Vida Total das en ferm ei ras do Hospital Hel i ó polis como razo á vel em alguns aspectos e bastante com prom etida em outro s . Elevada con centração em satisfação nas dimensões que abra ngem aspectos soc i a i s , de rel ac i onamen to e desenvo lvi m en to do poten c i a l . Em con traparti d a , há insatisfação resu l t a n te nos aspectos qu e a bordam a valorização, compen s a ç ã o, condições de trabalho e investimen to na educação formal do prof i s s i on a l .

Con s i derações finais Dor, doença e morte fazem parte do co tidiano e somam-se à angústia e à ansied ade do pac i ente com a integri d ade física com prom etida, com famílias tra n s tornadas, intermediados com a realização de proced i m en tos assistenciais desconfort á veis, doloro s o s , i nvasivos, num ambi ente estra n h o, desnudando-os em seu desequ i l í brio, ex pon do-os em sua fragi l i d ade. Além disso, f a tores con s ti tuintes da pr ó pria e s trutura or ga n i z ac i onal podem com prom eter d i ret a m en te o de s envo lvi m en toe a atuação, como ausência de recon h ec i m en to pelo tra b a l h o, falta de plano de carreira, comunicação defic i en te , falta de planeja m en to, salário incom p atível com a função ou mu i to abaixo do merc ado. Essa associação pode colocar em risco a motivação e a sati s f a ç ã o, vi n do a contribuir, conseq ü en temen te , para uma baixa produtivid ade e qu eda na qualidade do serviço pre s t ado. A abord a gem de aspectos que afetam o ind iv í duo e o gru po, principalmen te em uma comu n i d ade de saúde de serviço públ i co, c a racteriza a importância dessa pesquisa, poden do

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propiciar a criação de estratégias para ree s trutu ração que favoreça a mel h oria das condições de tra b a l h o, com repercussão no aumen to de produtividade e qu a l i d ade de assistência. Ainda são caracterizadas as peculiaridades vo l t adas às diferenças de gênero e suas relações com índices de estresse. Os resultados apontam aspectos positivos envo lven do principalmen te a integração e a relevância social, bem como a oportunidade de uso e de s envo lvimento das capac i d ade s ; por é m a pontam aspectos negativo s , como a ausência de recon h ec i m en to pelo trabalho, falta de plano de carrei ra , comunicação def i c i en te e remun eração incom p a t í vel com a função. As re s pondentes expressaram um índice final discretamen te maior na graduação de satisfação. O papel funcional e social da enfermeira, na cultu ra or ga n i z ac i onal de uma comu n i d ade hospitalar, pode gerar con f l i tos em maior ou menor grau com suas características individuais, o que explica as variações ex pressas nas re s po s t a s , com prom eten do a motivação, e poden do gerar sof ri m en to físico e psíqu i co, qu e , s om ados a outros fatores, são causadores de estresse. Ob s erva-se que a profissão ainda carrega muito dessa concepção de sacrifício e autoa b a n don o, de s con s i dera n do as pr ó prias nece ss i d ades básicas, com po u co qu e s tion a m en to dos próprios limites físico s , emoc i on a i s , pess oa i s , em nome da manutenção do papel competen te na atividade e função, mesmo que em detri m en to pe s s oa l . Permanece como pano de f u n doum arqu é tipo de heroísmo, ressaltandose um trabalho que não visa à recom pensa fin a n cei ra . O orgulho do trabalho em si e na In s ti tu ição se con f l i tua com uma remu n eração considerada injusta e condições de trabalho insati sfatórias pela sobrecarga de tarefas numa profissão já por si estre s s a n te . A en fermagem po ssui percen tual predom i n a n te de mu l h ere s , corroborado pela pre s en te pe s quisa e pelos dados das en ti d ades oficiais de estatística que, ao longo da história, foram bastante refreadas em suas expre s s õ e s , e ainda hoje refletem dificuldades no auto - reconhecimen to, no auto - re spei to e no autoc u i d ado. Consideramos que a produtividade em en ferm a gem não possa ser medida por qu a n tidade de procedimen tos e economia de materiais, pois os re su l t ados de sua atuação nem s em pre serão visíveis, palpáveis ou mensurávei s . O cuidado em en ferm a gem nos parece di-

retamente ligado ao envolvimen to e ao comprometimento da pessoa com a In s ti tuição e com a profissão. Para que um trabalho tenha importância, não é nece s s á rio envolver assu n tos de grande sign i f i c ado históri co; en tret a n to, o trabalho precisa de um sentido para quem o faz. A pessoa deve sentir que é um trabalho que vale a pena s er fei to, que reforça sua auto-imagem e faz com que ela se sinta parte de um processo maior. Com base nesses dado s , ob s erva-se que mu itas intervenções podem ser efetu ad a s , a tenu a ndo os índices de insatisfação, f avorecendo a motivação e prom oven do condições para melhor qu a l i d ade na assistência. Considerando a atuação de enfermagem, no âmbi to hospitalar, envo lvida em um tra b alho de gru po mu l ti prof i s s i on a l , ac redita-se qu e , para se efetuar uma abord a gem de terapia mu ltidimensional, numa con cepção holística, é necessário que os membros da equipe de saúde con ti nuem se especializando nos vários campos, porém com p a rtilhando essa con cepção e efetu a n do uma estrutura con ceptual comum, para uma comunicação eficien te e uma sistematização dessa integração. É po s s í vel criar estratégias para lidar com algumas incoerências do dia-a-dia: se para com o ser mais próximo de nós, que somos nós mesmos, não con s eguimos perceber nossa importância, i dentificar nossas nece s s i d ades, res erva r-nos um tra t a m en tocarinhoso e pac i ente, como é que con s eguiremos efetuar esses valores com auten ti c i d ade para com o outro ? O mesmo se aplica à In s titu i ç ã o. Se para com os que con s ti tu em seu pr ó prio “corpo” de trabalho, seja o corpo clínico, o de enfermagem, ou qualquer outro componente da áre a da equipe de saúde, ou ainda para os que lhe dão suporte, não há investimento, aten ç ã o, nem busca na identificação de obstáculos à harmonia e equ i l í brio nas relações de trabalho, o que será projet ado re a l m en te na assistência? Não aten den do às nece s s i d ades de seu pr ó prio corpo funcional, propicia condições para a proliferação de el em en tos patog ê n i co s , que podem levar a or ganização a estados en fermos e, até mesmo, à própria morte, pela falência de s eus múltiplos “órgãos”. Não pode existir uma plena qualidade organizacional concom i t a n te ao detrimento da qu a l i d ade de vida de seus funcion á rios. Desse modo, con s i deramos que verificar as insati s f ações pode forn ecer informações significativas para a con s trução de estra t é gias vo l t adas ao de-

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senvo lvi m en to de reformas or ga n i z ac i on a i s . Só assim, é po s s í vel gerar condições para o crescimen to profissional pessoal e da comunidade, que poderá ser ex presso numa assistência mais produtiva, seg u ra e de qu a l i d ade inqu e s tionável, com garantia na própria saúde da organização.

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