José de Sousa Saramago nasceu a 16 de novembro de 1922, de uma família de
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MEMORIAL DO CONVENTO J OSÉ SARAMAGO PROF. J ORGE ALBERTO 1. RESUMO BIOGRÁFICO José de Sousa Saramago nasceu a 16 de novembro de 1922, de uma família de camponeses pobres, na aldeia de Azinhaga, distrito de Santarém, província do Ribatejo, em Portugal. Com apenas dois anos mudouse com a família para Lisboa. Com cinco anos, ao entrar para a escola, descobriuse um erro na sua certidão de nascimento: o funcionário do Registro – bêbado – acrescentou Saramago (nome de um planta silvestre, que dá uma florzinha com quatro pétalas e cresce pelos cantos, quase sempre esquecida, explicação do autor), converteu em nome legal um apelido familiar (a família do autor era conhecida com o apodo de Saramago). Desta forma, José foi o primeiro Saramago da família Meirinho Sousa. Autodidata, só fez cursos técnicos e não chegou a concluir nenhum curso universitário. Exerceu profissões humildes e conheceu a condição de operário antes de se dedicar inteiramente à literatura: mecânico de carro, serralheiromecânico, funcionário público, jornalista, desenhista, editorialista. O escritor leu seu primeiro livro aos 11 anos: "O Mistério do Moinho", um presente da mãe. O seu primeiro emprego foi como serralheiro, nas oficinas do Hospital Civil de Lisboa. Ao mesmo tempo em que trabalhava, Saramago enriquecia sua cultura, lendo tudo que lhe chegasse às mãos. Freqüentou, à noite, intensa e solitariamente a Biblioteca Municipal Central – Palácio das Galveias, na capital portuguesa e comprou os primeiros livros aos 19 anos. Foi em 1944 que o jovem José casouse com a pintora Ilda Reis. Em 1947 Saramago arriscase no ofício de escritor pela primeira vez aos 24 anos de idade, quando publica o romance de filiação neorealista "Terra do Pecado", obra que rejeitaria totalmente. Assim como a obra “Clarabóia”, que não foi publicada e jamais será, informa o autor. O fracasso do primeiro livro marcouo tão profundamente que só voltaria a escrever vinte anos mais tarde. Em 49 nasceu sua primeira filha, que recebeu o nome de Violante. A partir de 55 começa a fazer traduções para aumentar os rendimentos – Hegel, Tolstói e Baudelaire são alguns dos autores. Em 1966, Saramago lançou seu primeiro livro de poesias, intitulado "Os Poemas Possíveis", para, três anos mais tarde, ingressar no Partido Comunista Português, partido no qual permanece até hoje e do qual virou uma espécie de baluarte, antes e depois do Nobel. É um prosador oriundo da classe trabalhadora que só atingiu a celebridade quando cumpriu os 60 anos. Desde então alcançou a notoriedade e tem visto a sua obra ser freqüentemente traduzida em mais de 20 idiomas. 2. CONTEXTO DO MODERNISMO O Modernismo português nasce num contexto de renovação política e do ressurgimento do nacionalismo lusitano, gerando duas correntes: os saudosistas e os integralistas de mentalidade fascista. Pregavase uma volta ao passado, invocandose o Império, o Sebastianismo, as glórias de Os Lusíadas e as Grandes Navegações. A literatura modernista dá sua contribuição procurando atualizar o país em relação às renovações artísticas que surgem em toda a Europa. O marco inicial do Modernismo português foi a publicação da revista ORPHEU, em 1915, antenada com as vanguardas européias, tendo como responsáveis Fernando Pessoa, Mário de SáCarneiro, Almada Negreiros, Luís de Montalvor, o brasileiro Ronald de Carvalho e outros. Cronologicamente, a poesia de Florbela Espanca filiase à Primeira Geração: Orphismo (19151927). A Segunda Geração: Revista Presença (o Presencismo 19271940) de autores como: José Rodrigues Miguéis, Adolfo Casais Monteiro, José Régio, Branquinho da Fonseca, Antônio Boto, Miguel Torga. A Terceira Geração, NeoRealismo, é um movimento literário que combate o fascismo e propõe uma literatura social, documental, combativa e reformadora. O Neo Realismo situase aproximadamente entre 1940 e 1960. Ferreira de Castro é o grande precursor com o seu romance A Selva. A influência de Ferreira de Castro, as teorias marxistas,
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COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UFPI o romance social norteamericano e de escritores regionalistas brasileiras, sugerem aos escritores portugueses os traços mais definidores. Em 1940 é publicado o romance “Gaibéus”, de Alves Redol, que oficializa essa fase. Outros autores ligados aos ideais neorealistas: Manuel da Fonseca, Soeiro Pereira Gomes, Fernando Namora, Carlos de Oliveira, Joaquim Paços D´Arco. 3. OBRA Poesia Os Poemas Possíveis, 1966 Provavelmente Alegria, 1970 O Ano de 1993, 1975 Crônica Deste Mundo e do Outro, 1971 A Bagagem do Viajante, 1973 As Opiniões que o DL teve, 1974 Os Apontamentos, 1976 Diário Cadernos de Lanzarote I, 1994 Cadernos de Lanzarote II, 1995 Cadernos de Lanzarote III, 1996 Cadernos de Lanzarote IV Memória As Pequenas Memórias, 2006 Viagem Viagem a Portugal, 1981 Teatro A Noite, 1979 Que Farei Com Este Livro?, 1980 A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987 In Nomine Dei, 1993 Conto Objecto Quase, 1978 Poética dos Cinco Sentidos O Ouvido, 1979 O Conto da Ilha Desconhecida, 1998 Romance Terra do Pecado, 1947 Manual de Pintura e Caligrafia, 1977 Levantado do Chão, 1980 (primeiro livro publicado no Brasil, 1982) MEMORIAL DO CONVENTO, 1982 O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984 A Jangada de Pedra, 1986 História do Cerco de Lisboa, 1989 O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
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COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UFPI Ensaio sobre a Cegueira, 1995 (Prêmio Camões) Todos os Nomes, 1997 A Caverna, 2001 O Homem Duplicado, 2002 Ensaio sobre a lucidez, 2004 As Intermitências da Morte, 2005 4. LINGUAGEM E ESTILO O próprio Saramago revela em entrevistas que Fernando Pessoa, Franz Kafka e Jorge Luís Borges são influências mais do que claras. Críticos também o aproximam de uma longa tradição portuguesa constituída por Antônio Vieira, Fernão Lopes (em tom de crônica histórica) e Camilo Castelo Branco. Apesar de não ter sido o autor da primeira obra pósmodernista no cenário literário português – feito atribuído ao escritor José Cardoso Pires, na década de 60 –, Saramago é visto como o responsável pelo aprofundamento desse estilo. Dentre os vários aspectos de seu estilo, apontamos: o autor problematiza o ato de escrever (metalinguagem), observa a história com um distanciamento do discurso oficial e combina ensaio e romance, implodindo as fronteiras entre ficção e nãoficção; uso próprio dos sinais de pontuação: predominância do ponto e da vírgulas no lugar dos travessões nos diálogos, usa a maiúscula para a fala do interlocutor (rompendo a estrutura tradicional do discurso direto); mistura as falas das personagens, onde o uso do discurso indireto livro é bastante influenciador; o período, parágrafo, frase longos; a intertextualidade, a paródia, a colagem, valorização da ironia, questionamento da religião e de outros sistemas que criam relações de poder; a substituição do discurso individual pelo coletivo, inversões sintáticas, diversidade de tons: do lírico ao irônico, do coloquial ao pomposo; faz uso de informações oficiais e as mistura com fontes oficiosas, sem abrir mão da sua capacidade imaginativa, isto é, substituir o que foi pelo que poderia ter sido, afirma o autor. “Ele constrói uma história do que poderia ter sido, dando voz a pessoas anônimas, sujeitos comuns, que podem ter existido, que fizeram de nós o povo que somos. Com isso, Saramago presta uma homenagem aos heróis anônimos”, diz a eminente professora Ana Paula Arnaut, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Entendemos que nessa primeira fase, a de “romances históricos”, o seu objetivo não é reconstituir o passado, e sim desconstruílo, subvertêlo. 5. MEMORIAL DO CONVENTO (1982) A ficção de Saramago, socialista convicto, é produzida sob a ótica dos fracos, dos marginalizados e humilhados. Conheça sua explicação sobre o que o levou a escrever Memorial do Convento: “A construção do convento de Mafra foi uma demonstração, entre outras, da megalomania de João V, graças à exploração do ouro e de diamantes do Brasil. Ali foi enterrada uma fortuna incalculável. Mas é impossível apurar quanto, porque todos os documentos foram destruídos. Pois bem, sendo eu um homem de esquerda, com um pensamento marxista, não poderia deixar de me impressionar com o fato de 40 mil homens terem construído aquela obra”. 5.1 ELEMENTOS DA NARRATIVA O romance está dividido em 25 capítulos, sem numeração alguma, marcados por espaços vazios entre o final de um e o início de outro. A obra representa uma investida no campo da narrativa histórica. Após demoradas pesquisas que levaram cerca de quase 30 anos, Saramago investiga quase 50 anos da História de seu país nos limites dos séculos XVII e XVIII, com um semfôlego de informações que são justapostas rapidamente, sem interrupção como se houvesse uma impulsão que transformasse pensamentos em palavras. ESPAÇO 1. O palácio que abriga a nobreza de D. João V, por onde o clero transita com facilidade; 2. As ruas de Lisboa, sempre cheias da "arraiamiúda", o povo pobre, faminto;
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COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UFPI 3. A quinta ( chácara) para onde vão o padre Bartolomeu Lourenço, Blimunda e Baltasar construir a “Passarola”; 4. A cidade de Mafra e os arredores. TEMPO O tempo narrativo é do tipo cronológico e está inserido entre duas datas: "dezessete de novembro deste ano da graça de 1717", como indica o último capítulo, a data da morte do escritor e comediógrafo brasileiro Antônio José da Silva, o Judeu, autor das Guerra de Alecrim e Manjerona, em 1739. Ou seja, a história que vamos analisar tem duração temporal de 22 anos. FOCO NARRATIVO O foco narrativo do romance é do tipo cambiante/deslizante, isto é, mistura das falas; também chamado múltiplo, com predominância em 3 a . pessoa. A voz do narrador faz comentários satíricos com freqüência e entra em contradição com os dados históricos oferecidos anteriormente.
"Já se deitaram. Esta é a cama que veio da Holanda quando a rainha veio da Áustria, mandada fazer de propósito pelo rei, a cama, a quem custou setenta e cinco mil cruzados, que em Portugal não há artífices de tanto primor, e, se os houvesse, sem dúvida ganhariam menos. A desprevenido olhar nem se sabe se é de madeira o magnífico móvel, coberto como está pela armação preciosa, tecida e bordada de florões e relevos de ouro, isto não falando do dossel que poderia servir para cobrir o papa. Quando a cama aqui foi posta e armada ainda não havia percevejos nela, tão nova era, mas depois, com o uso, o calor dos corpos, as migrações no interior do palácio, ou da cidade para dentro, rica de matéria e adorno não se lhe pode aproximar um trapo a arder para queimar o enxame, não há mais remédio, ainda não o sendo, que pagar a Santo Aleixo cinqüenta réis por ano, a ver se livra a rainha e a nós todos da praga e da coceira." (p. 16) Observação: Tanto em primeira quanto em terceira pessoas , o narrador se comporta como uma espécie de "guia" para seus leitores. Usa pronomes demonstrativos como se apontasse os acontecimentos, os seres e as coisas:
"Esta é a cama que veio da Holanda(...)" "Este que por desafrontada aparência, sacudir da espada e desparelhadas vestes, ainda que descalço, parece soldado, é Baltazar Mateus." PERSONAGENS HISTÓRICOS
Em seu Memorial do Convento, o escritor português inseriu personagens reais, históricas, pertencentes ao século XVIII: 1. D. João Quinto, 24º rei de Portugal, a quem se atribuía grande sabedoria, mau humor e sexualidade exagerada. No romance, é retratado como um libertino ignorante, vaidoso, libidinoso e vulgar, que gostava de montar réplica da Basílica de S. Pedro. 2. D. Ana Maria Josefa, princesa austríaca que se tornou rainha de Portugal, casada com D. João V. A história a descreve como beata, submissa e medrosa. 3. Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, brasileiro, nascido em 1685, apelidado de "O Voador" por ter inventado a “passarola” (aeróstato); morto em 1724, dado como louco pela Inquisição. 4. Domênico Scarlatti, músico italiano barroco, compôs inúmeras músicas para cravo e esteve realmente em Portugal por tempos, ensinando música para a infanta D. Beatriz. Ao voltar à Itália, notabilizouse e ganhou nome e destaque como compositor e maestro. PERSONAGENS DE FICÇÃO
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1. Blimunda de Jesus ( Blimunda SeteLuas) Blimunda é uma criatura diferente: enxerga as pessoas "por dentro" se estiver em jejum. Tem 19 anos, é forte, decidida, ama Baltasar assim que o vê, sabia que ele seria seu amor para sempre: "Correu algum sangue sobre a esteira. Com as pontas dos dedos médio e indicador umedecidos nele, Blimunda persignouse e fez uma cruz no peito de Baltasar, sobre o coração. Estavam ambos nus." 2. Baltasar Mateus ( Baltasar SeteSóis) Tem 26 anos, é forte e destemido. Fora soldado e, na guerra, perdera a mão esquerda: "Foi mandado embora do exército por já não ter serventia nele, depois de lhe cortarem a mão esquerda pelo nó do pulso, estraçalhada por uma bala em frente de Jerez de los Caballeros." Também sabe que terá Blimunda para sempre: "Baltasar Mateus, o SeteSóis, está calado, apenas olha fixamente Blimunda, e de cada vez que ela o olha a ele sente um aperto na boca do estômago, porque olhos como estes nunca se viram, claros de cinzento, ou verde, ou azul, que com a luz de fora variam ou o pensamento de dentro, e às vezes tornamse negros noturnos ou brancos brilhantes como lascado carvão de pedra." ENREDO Apesar de ter sido trazida da Áustria já há dois anos, especialmente para gerar o sucessor ao trono de D. João V, rei de Portugal, a rainha D. Maria Ana Josefa parece não conseguir engravidar. Sendo o rei um símbolo de virilidade, mas é ela considerada infértil e, conseqüentemente, a única culpada pelo fato de o rei ainda não ter tido herdeiros. Quando, ao cair da noite, o rei se prepara para ir ao quarto da rainha para mais uma tentativa, chega ao palácio D. Nuno da Cunha, bispo inquisidor, acompanhado de um velho frade franciscano, Antônio de S. José, que propõe uma solução para o problema do rei. Diz o frade que a rainha engravidaria assim que o rei prometesse construir um convento para os frades da ordem dos franciscanos na vila de Mafra. Feita a promessa, o casal real vai para o quarto. Depois de consumado o ato sexual, rei e rainha dormem e sonham cada um com seus próprios desejos, suas diferentes fantasias: ela sonha que tem um encontro amoroso com seu cunhado, o Infante. Passado o "entrudo" , como de costume, durante a quaresma as ruas se encheram de gente que fazia cada um suas penitências. Segundo a tradição, a quaresma era a única época em que as mulheres podiam percorrer as igrejas sozinhas e assim gozar de uma rara liberdade que lhes permitia até mesmo de se encontrarem com seus amantes secretos. Porém, D. Maria Ana não podia gozar dessas liberdades pois, além de ser rainha, agora se encontrava grávida. Assim, tendo ido para a cama cedo, consolouse em sonhar outra vez com D. Francisco, seu cunhado. Passada a quaresma, todas as mulheres retornaram para a reclusão de suas casas. Não somente por causa da gravidez de cinco meses, mas também por estar de luto pela morte de seu irmão, a rainha Maria Ana deixa de freqüentar o grande autodefé na praça do Rossio em Lisboa, evento muito popular, que já há dois anos não ocorria. Ali seriam castigados pela Inquisição diversos casos de heresia. Entre os condenados pelo Santo Ofício, um é focalizado com maior destaque. É Sebastiana Maria de Jesus, acusada de ser feiticeira e cristãnova . Sebastiana, durante alguns parágrafos, tornase a narradora da história. Sebastiana Maria de Jesus tem uma filha de 19 anos: Blimunda, jovem de poderes sobrenaturais, que assiste à procissão ao lado do padre Bartolomeu Lourenço. Perto dela está um homem, Baltasar Mateus, o SeteSóis, a quem ela se dirige e cujo nome procura saber. Voltando a sua casa, Blimunda leva consigo o padre e deixa a porta aberta para que o recém conhecido também possa entrar. Depois de o padre sair, Blimunda convida Baltasar para que fique morando em sua casa, pelo menos até que ele tivesse que voltar a Mafra . No dia seguinte, ao acordar, Blimunda, sem abrir os olhos, come um pedaço de pão e promete a Baltasar que nunca o olharia "por dentro". Começa aqui a fiel e duradoura amizade entre os três personagens que se contrapõem aos personagens da família real, heróis da historiografia oficial. Iniciase também a relação amorosa entre Baltasar e Blimunda, que ocupará o centro da narrativa. Ao encontrarse com o padre Bartolomeu Lourenço, que estava procurando usar sua influência no palácio para conseguir dinheiro. Baltasar fica sabendo que o padre era conhecido
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COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UFPI como "o Voador", por ter criado uma máquina a qual todos ridicularizam, chamando de "a passarola". Baltasar aceita o convite do padre para ser seu ajudante no projeto de construir a tal "máquina de voar", mas enquanto não chega o dinheiro para o material necessário, fica trabalhando em um açougue. Enquanto isso, no palácio, para decepção do rei, a rainha dá à luz uma menina, Maria Xavier Francisca Leonor Bárbara, que é batizada por sete bispos. Apesar de o frade Antônio de S. José já ter morrido quando do nascimento da criança, a promessa do rei de construir o convento seria mantida. Enquanto no palácio nascia D. Pedro, segundo filho da família real, e o rei viajava a Mafra para escolher o lugar onde seria erguido o convento monumental, Baltasar e Blimunda mudamse para a abegoaria na quinta do duque de Aveiro, amigo do rei, em S. Sebastião da Pedreira. Além de proporcionarlhe o lugar de trabalho, o rei, que se interessara pelo projeto do padre como uma criança se interessa por um brinquedo novo, com sua amizade e influência protegia o padre das garras da Inquisição que, caso viesse a saber dos projetos do padre, teria motivos suficientes para acusálo de heresia. Na quinta do duque de Aveiro, Padre Bartolomeu, com a ajuda de Baltasar e Blimunda, prossegue na construção da passarola. Decide, então, partir à Holanda, onde dizem que os sábios conhecem os mistérios da alquimia e a natureza do éter , o único elemento que, segundo ele, estava faltando para que sua invenção fosse concluída. Baltasar e Blimunda, depois que o padre parte, decidem mudarse para Mafra , terra natal de Baltasar. Antes de partir, o casal decide assistir, ao invés de mais um autodefé que seria realizado na praça do Rossio, a uma outra festa popular, a tourada. Assim como os autosdefé , as touradas sempre terminavam com um forte cheiro de carne queimada, proveniente do churrasco realizado no final da festa. Ao chegar à casa da família em Mafra , acompanhado de Blimunda, Baltasar é recebido por sua mãe, Marta Maria, já que João Francisco, seu pai, estava trabalhando no campo. Baltasar fica sabendo que sua única irmã, Inês Antônia, estava casada com Álvaro "Pedreiro" Diogo. Voltando da Holanda, onde estivera por três anos, o padre Bartolomeu Lourenço dirigese à quinta de S. Sebastião da Pedreira, encontrando a albegoaria abandonada. Algumas semanas depois, parte em direção a Coimbra, de onde conta retornar já "doutor em cânones". Antes, porém, decide visitar o casal amigo em Mafra , onde, ao chegar, encontra um pároco, Francisco Gonçalves, que lhe oferece um quarto para ficar hospedado. De volta à quinta do Duque de Aveiro, Baltasar desmonta a passarola que, abandonada, encontravase com a estrutura enferrujada e os panos cheios de mofo. Pouco tempo depois chega o padre, que logo quer saber quantas vontades Blimunda já recolhera. Ao ouvir que até então havia apenas trinta "vontades" na garrafa, o padre lhe diz que eram necessárias pelo menos duas mil. Baltasar continua trabalhando na "máquina de voar" enquanto padre Bartolomeu vai constantemente a Coimbra, a fim de concluir seus estudos. Sabendo de uma epidemia de febre amarela que, trazida do Brasil, se alastrava por Lisboa e já matara quatro mil pessoas em três meses, o padre Bartolomeu pede a Blimunda que aproveite a ocasião para recolher as vontades que se desprendem do peito dos moribundos. Blimunda faz o que o padre lhe pedira e, no final da epidemia, consegue recolher as duas mil vontades necessárias para fazer voar a "passarola". O casal acaba se tornando conhecido em Lisboa, por sempre andar pela cidade sem medo da epidemia. Depois de cumprida a tarefa, Blimunda fica doente e, durante toda sua convalescença, o músico Scarlatti vai tocarlhe cravo, o que contribui para a restauração de sua saúde. Estando as vontades recolhidas e a máquina de voar já pronta, nada falta para que o invento do padre seja testado. Além disso, o rei já não pode fazer nada para que o Duque de Aveiro lhes empreste a quinta onde trabalham. O padre, que andava receoso do Santo Ofício, vai ao palácio se certificar da proteção e amizade do rei, mas volta aflito, pois descobrira que o Santo Ofício já estava a sua procura. Assim, só lhe resta propor ao casal que os três terminem rapidamente o projeto e juntos fujam na "máquina de voar". Depois de passarem despercebidos sobre a cidade de Lisboa, os três sobrevoam a vila de Mafra , onde várias pessoas vêem a máquina voadora, julgando ser uma aparição do Espírito Santo. Encontrando dificuldades para controlar a máquina, finalmente a fazem aterrissar, graças à iniciativa de Blimunda de segurar junto a seu peito as duas esferas contendo as "vontades". No dia seguinte, o casal impede o padre, que se encontrava aflito de emoção ou de medo, de atar fogo à máquina. Mas não podem impedir que ele parta sozinho mata adentro, para nunca mais voltar. Blimunda e Baltasar escondem a máquina sob a ramagem e partem na
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COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UFPI mesma direção tomada pelo padre, até chegarem, depois de alguns dias, a Mafra , onde uma procissão celebrava o milagre que o povo acreditava ter presenciado. Ali, Baltasar, a exemplo de tantos outros moradores locais, começa a trabalhar nas obras do convento, cuja dimensão e quantidade de homens que emprega muito o impressionam, apesar de achar o ritmo com que se desenvolve demasiado lento. Chegam notícias do terremoto de Lisboa, que foi seguido de inaudita tempestade. Dois meses depois de terem chegado a Mafra , Baltasar decide voltar ao Monte Junto, onde haviam deixado a máquina de voar. Ele a encontra no mesmo lugar, mas necessitando de alguns reparos. Depois de quase quatro anos em Mafra , Blimunda pela primeira vez pede a Baltasar para acompanhálo em uma de suas visitas periódicas ao Monte Junto. Depois de lá chegarem, resolvem passar a noite para que, ao amanhecer, Blimunda, ainda em jejum, se certificasse de que as vontades ainda estavam guardadas dentro de cada uma das esferas. Finalmente, o rei decide que a sagração da basílica deveria ser realizada dois anos mais tarde, no dia vinte e dois de outubro de 1730, quando ele completasse 41 anos, estivesse ou não a obra concluída. Com a ampliação do projeto, tornarase necessário que se recrutasse um grande número de trabalhadores, dentre os quais muitos seriam levados a fazer o trabalho contra a própria vontade, o que causaria grande tristeza a muitas famílias de toda a região. Simultaneamente, as famílias reais de Portugal e de Espanha logo se preparariam, em 1729, para se unirem através de dois casamentos. Em 1730, pouco mais de um ano depois da "troca das princesas", a basílica do convento seria enfim consagrada, mesmo estando as obras, tanto as da basílica como as do convento, ainda longe de serem concluídas. Várias estátuas de santos desfilam pelas ruas e são transportadas até o local onde seriam instaladas. Blimunda e Baltasar resolvem ver as imagens dos santos Segundo acreditam, os santos passariam a noite conversando pela última vez, antes de serem isolados em seus nichos, na basílica. Ao amanhecer, Baltasar decide ir sozinho ao Monte Junto, verificar o estado da "passarola". Ao tentar fazer os já costumeiros reparos na máquina, Baltasar tropeça e rasga os panos que cobriam as esferas, de modo que quando os raios de sol as atingem, a máquina inesperadamente levanta vôo. Blimunda vai procurálo no dia seguinte, ao mesmo tempo em que romarias se dirigem à sagração da basílica, mas não encontra seu amado, apenas o espigão de ferro, que ela não hesita em usar quando um frade a tenta violála. Blimunda continua a procurar Baltasar durante nove anos, perambulando por todas as partes do país. Sua jornada termina em Lisboa, em situação semelhante àquela em que conhecera Baltasar.
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